Urbano Ferreira de Guimarães (25 de maio de 1930, Faz. Pouso Alto - 26 de julho de 2017, Campo Grande) nasceu na Faz. Pouso Alto, propriedade que pertencia aos seus pais Juscelino Ferreira Guimarães e Antônia Ferreira de Mello, lideranças da região do Alto Sucuriú, então município de Três Lagoas. Sua criação foi em uma modesta sede de fazenda, típica da região, uma casa de pau-a-pique coberta com palhas, comum num local onde os recursos eram muito escassos. Desde muito cedo trabalhou nos lides da fazenda com o seu pai e irmãos, era um latifúndio muito extenso, 12.063 hectares, cujas divisas eram limitadas por marcos sem nenhum tipo de cercamento.
É nessa época de grandes dificuldades, quando o então sul de Mato Grosso, ainda era desprovido de infraestrutura básica, que viu o seu pai destacar-se como líder local, por sua erudição e disposição para reivindicar mudanças. Inclusive, espelhando-se na honestidade, recordando-se sempre do seu pai se negar receber suborno de um importante político local, mantendo-se firme em suas convicções. Além disso, seu pai era fundador de um povoado local, denominado, até então, como Alto Sucuriú, cuja a primeira escola local foi construída e sediada na fazenda.
Aliás, Urbano era conhecido por ser muito bom em matemática, vencendo todas as disputas com os seus amigos e colegas de classe. Inteligente e desenvolto, decidiu ainda na adolescência sair do seio familiar, aventurar-se pelos sertões e aprender mais sobre a lida com o gado. Com isto, percorreu todo o pantanal conhecendo cidades pelo Mato Grosso adentro, adquirindo uma experiência valiosa para a sua vida. Conta-se ainda, que sabia quantas arrobas um boi tinha só de olhar, difícil de ser enganado, ficou com fama de bom negociador, tornando-se vendedor de touros, até o seu retorno ao Pouso Alto.
Quando voltou, começou a namorar a sua prima Maria Narciza dos Santos, filha de dona Manoela Pereira dos Santos e Samoel Narcizo de Nepomuceno, pecuaristas da região. Tal união deu-se no cartório de seu pai com festa realizada na Faz. Pouso Alto, com uma dotação de 25 reses, que no conjunto eram 50 reses, dando o início ao seu patrimônio. Assim como os seus demais irmãos, instalou-se na propriedade de seus pais, construindo uma sede de pau-a-pique e um mangueiro nas proximidades do rio Sucuriú.
Do seu matrimônio resultaram três filhas: Valdelice Narciza Guimarães, professora; Ruth Narciza Guimarães, assistente social e pecuarista; e Manoela Narciza Guimarães, também professora. Desde muito cedo, passou a sua prole o valor da educação e do trabalho, tomando posições firmes na condução da gestão da fazenda de seus pais, convertendo-se em uma liderança dentro da própria família. No entanto, não foi apenas nos negócios que se destacou, assim como o seu pai tomou o caminho da política, passando a lutar pela sua região.
Com a emancipação de Água Clara em 1954, o Alto Sucuriú passou a integrar o novo município, deixando de pertencer a cidade de Três Lagoas. Apesar da notícia, o ganho para a região não foi imediato, sem recursos para infraestrutura, a região continuou numa estagnação completa. Com o passar do tempo, o seu meio-irmão Alberto Ottoni Guimarães, ingressou na política puxando o seu irmão, transformando-os em porta-vozes dos locais, em muito esquecidos pelo poder público.
Primeira escola do Pouso Alto no distrito, logo após ser retirada da Faz. Pouso Alto. Albúm de Antônia Ferreira de Mello. |
Enquanto isso, na parte dos negócios, Urbano Guimarães e seu irmão Oriolando Ferreira Guimarães, receberam um título por aforamento da prefeitura de Água Clara, de uma área de 2.440 hectares, por conta do represamento construído pelos dois com o uso do carro-de-boi de seu irmão João Ferreira Guimarães. Essa área pertencia a uma parte maior de 3.600 hectares, onde se situa o povoado do Pouso Alto. Essa conquista ampliou as vantagens da família, que conjuntamente com os 12.063 hectares, formava uma das maiores extensões de terra sobre gestão de um único clã.
Urbano, pensando à frente, chegou até mesmo a propor um esforço conjunto da família para formar toda a propriedade. No entanto, seus irmãos ficaram receosos do volume financeiro que era necessário para tal empreitada. Ainda sim, na década de 1960 liderou o esforço para construir uma nova sede na fazenda, de material, com quatro quartos, duas salas e cozinha. Suas características arquitetônicas eram simples, com telhas francesas e janelas no modelo de vitrô de puxar, chão vermelho queimado. Apesar de simples, era ampla e arejada, dando-lhe mais conforto aos seus pais. Não parando por aí, o mangueiro foi ampliado para receber uma maior quantidade de gado, demonstrando uma maior prosperidade da família.
Dr. Adelson Pereira dos Santos em frente a sede da Faz. Pouso Alto, construída na década de 1960. Albúm de Antônia Ferreira de Mello. |
Aquando da divisão de terras, decorrente da idade avançada de Juscelino Ferreira Guimarães, liderou como procurador de seus pais o parcelamento de suas terras. Essa antecipação deve-se ao temor dos altos impostos de uma inventariação de bens, realizando-se uma doação em vida com usufruto vitalício do casal. Com isto, se procedeu da seguinte forma, com cada um a receber uma área de cultura e outra de campo, limitando-se a primeira parte na margem do rio Sucuriú e a outra na nascente do córrego Pouso Alto, divisa da Faz. Mosquito. Ao todo, constatou-se que a maior parte das terras eram campos, enquanto a menor parte era de cultura.
Cada um recebeu uma área de 1.096 hectares, incluindo o seu meio-irmão Alberto, que a vendeu para Urbano. Somando-se a isso, adquiriu de sua ex-cunhada Valdelice Siqueira, a área de 548 hectares, que se situava a sede de seus pais. De longe, tornou-se o maior proprietário da família, com 2.740 hectares, do total de 12.063 hectares.
Área que pertencia a Juscelino Guimarães e Antônia de Mello na época da doação em 1979. Google Maps. |
Na parte política, lutou pelo abastecimento de energia elétrica, uma escola mais decente em substituição a de madeira, além de um acesso rodoviário pavimentado para o resto do estado de Mato Grosso do Sul. Portanto, adentrou para a política partidária, tornando-se membro do diretório do MDB de Água Clara, dando início a uma carreira que resultou na vice-prefeitura do município. Enquanto Alberto Guimarães, conseguiu ser vereador e até mesmo a presidência da Câmara Municipal de Água Clara, dando força para a família ter ainda mais influência.
O auge político de Urbano Guimarães, foi tornar-se vice-prefeito na administração de Ésio Vicente de Matos, onde pode representar os interesses do Pouso Alto, auxiliando na construção da nova escola em substituição à antiga de madeira. Um feito político que trouxe muito ganho para o local, entretanto, não conseguiu fazer mais, por conta das dificuldades do trato político. Além disso, financiou com recursos próprios a construção da Igreja católica local.
Tomada de posse na prefeitura de Água Clara, Urbano F. Guimarães encontra-se com a camisa de cor preta. Albúm de Antônia Ferreira de Mello. |
Contudo, nem tudo na sua vida foram conquistas, infelizmente, um acidente quase levou-o à vida quando retornava de Chapadão do Sul. Não obstante, conseguiu sobreviver e passou o restante de sua vida tranquila no local onde nasceu, falecendo após um câncer com 87 anos de idade, em Campo Grande, sendo lá sepultado.
FAMÍLIA
No seu quadro familiar, temos de ter em conta a importância de seus ancestrais, seu pai era escrivão e pecuarista respeitado, enquanto as raízes da sua mãe eram ilustres, contando com fundadores de cidades. Seus bisavós maternos eram desbravadores conhecidos, um deles era o Coronel Antônio Trajano dos Santos, fundador da cidade de Três Lagoas, enquanto o outro, Antônio Paulino da Costa, auxiliou na constituição de vastas propriedades. Um outro nome a destacar, é o do seu avô Mizael Ferreira de Mello, que deixou uma formidável fortuna para os seus filhos. Além desses, o seu tetravô era o desbravador e pecuarista Januário Garcia Leal, um dos fundadores de Paranaíba.
Essa soma de influências é fundamental para entender o contexto histórico e de pensamento de Urbano. Aliás, não podemos nos esquecer da menção do papel da sua mulher, que era sua parente e tinha as mesmas bases de educação e pensamento, tendo noção do passado e do seu legado. Esse conjunto de fatores explica a sua trajetória e como conservou-se como o único dos filhos de Juscelino a permanecer na sua antiga fazenda.
Fica aqui a homenagem a uma das lideranças do distrito de Pouso Alto, que a sua memória não seja esquecida.
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